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Nossa cabeça é uma bagunça, e isso explica muita coisa!

Nos vemos como uma unidade, UM eu, mas nossa cabeça é uma bagunça

O cérebro é uma bolota de carne composta por várias partes/áreas. Essas diferentes áreas “querem” e fazem diferentes coisas. Elas cooperam, mas também brigam entre si.

(me desculpem pela falácia mereológica e pela personificação do cérebro, mas é didático)

O que você chama de “eu”, no fundo, é o resultado de uma organização de um monte de partes diferentes que interagem. Você já deve ter percebido que não é tão coeso, já que é cheio de conflitos internos (como todos nós).

Vamos usar um exemplo de de tomada de decisão sob risco, deste artigo (negritos meus):

“Tomar uma decisão arriscada é um processo complexo que envolve a avaliação tanto do valor das opções como do nível de risco associado. No entanto, os processos neurais subjacentes a estes processos ainda não foram claramente identificados. Usando imagens de ressonância magnética funcional e uma tarefa que simula decisões de risco, descobrimos que a região dorsal do córtex pré-frontal medial (MPFC) era ativada sempre que uma decisão de risco era tomada, mas o grau dessa atividade entre os indivíduos estava negativamente correlacionado com a preferência de risco. Em contraste, o MPFC ventral foi modulado parametricamente pelo ganho/perda recebido, e a ativação nesta região foi positivamente correlacionada com a preferência de risco de um indivíduo. Estes resultados ampliam as evidências neurológicas existentes, mostrando que o MPFC dorsal e ventral transmitem diferentes sinais de decisão (isto é, aversão à incerteza versus abordagem a resultados recompensadores), onde as forças relativas desses sinais determinam decisões comportamentais envolvendo risco e incerteza.”

Então, você tem uma situação em há risco e possibilidade de recompensa. Partes diferentes do seu cérebro vão lidar com diferentes questões (MPFC dorsal x MPFC ventral, risco x recompensa). Estas partes vão interagir e o sistema todo (cérebro-você) vai gerar um resultado (a decisão).

Em parte, avaliamos o risco e a recompensa separadamente, e não como parte de um sistema unificado. Isso ajuda a entender porque é que tantas vezes julgamos mal o risco. Mesmo sem perceber, podemos inibir seletivamente as áreas do cérebro que nos alertam sobre o risco.

(um outro exemplo bom de como não somos tão conscientes ou racionais, é o efeito de ancoragem nos influenciando a pagar menos a fatura do cartão de crédito.)

Costumo dizer que o nosso comportamento é o resultado de uma equação. Ou seja, resultado de relações entre diferentes variáveis e suas quantidades*.

Isso explica muita coisa!

Por isso você, ao mesmo tempo, quer e não quer, gosta e não gosta, faz sem querer, quer mas não faz, perde o controle, se controla demais…

Uma metáfora social

Se ir para o nível mais micro não ficou muito claro, vamos ao nível macro.

Pense em uma eleição qualquer (o que quero te mostrar não tem nada a ver com política). Qual foi a decisão dO brasileiro? O brasileiro está em qual posição no diagrama de Nolan? Como ele vê a economia? Qual é sua moral? Quem O brasileiro elegeu?

Agora, a decisão dO brasileiro é igual a sua? A decisão dele há 8 anos foi igual a sua? O brasileiro te representa?

O que isso quer dizer? Podermos ver o brasileiro como uma unidade, mas isso esconde que ele é “resumo”, um resultado de interação/conflito entre várias partes e forças. Quando você olha para o brasileiro, perde de vista o João, a Maria, o Enzo, a Valentina. Quando você olha para o eu, perde de vista o córtex pré-frontal, a amígdala, o hipocampo, o núcleo accumbens.

Se você olhar uma floresta muito de cima, pode perder a visão das várias árvores que a formam, e ela pode parecer só uma grande massa verde. Assim, muita coisa fica sem explicação. É a mesma coisa com você. Sem entender o que te compõe e suas dinâmicas internas, fica difícil entender muita coisa.


*(um exemplo real, só para você visualizar isso melhor; a equação abaixo inclui o valor da recompensa de uma opção obtida, a utilidade do resultado obtido, desapontamento (uobtida – uperdida) e probabilidade subjetiva do obtido.

Equação da decision-affect theory

About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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