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Freud e Beck: Repetição na Psicanálise e Esquemas cognitivos

Enquanto estava escrevendo o artigo explicando esquemas cognitivos, me deparei novamente com uma conexão teórica que acho muito interessante.

Não citei a definição de esquemas cognitivos do Beck, mas ela é muito boa:

É uma estrutura cognitiva que realiza processamento de informação e que

(…) filtra, codifica e avalia os estímulos aos quais o organismo é submetido… Com base na matriz de esquemas, o indivíduo consegue orientar-se em relação ao tempo e espaço e categorizar e interpretar experiências de maneira significativa.

Nesse belo artigo, o Callegaro também cita a conexão (negritos meus):

“Segundo Beck (1967), os esquemas podem explicar o fenômeno da repetição que os psicanalistas identificaram clinicamente, e sobre o qual Freud teorizou. As imagens, sonhos e associações livres apresentam temas recorrentes ligados aos esquemas, que podem ficar inativos e depois serem “energizados ou desenergizados rapidamente, como resultados de mudanças no tipo de input do ambiente” (p. 284). Os esquemas contaminam a arquitetura mental do sujeito e governam sua forma de interpretar os acontecimentos, resultando em uma percepção distorcida e tendenciosa, refletindo-se “nas típicas concepções errôneas, atitudes distorcidas, premissas inválidas, metas e expectativas pouco realistas” (p. 284).”

A repetição na Psicanálise de Freud

Na psicanálise do tio (Sigmund) Freud, o conceito de repetição é central e está relacionado a um fenômeno psicológico chamado “compulsão à repetição“. É um conceito fundamental para a compreensão das dinâmicas psicológicas inconscientes.

A repetição, na perspectiva freudiana, refere-se ao tendência humana de reviver e repetir experiências emocionais traumáticas ou conflituosas do passado, muitas vezes de maneira inconsciente e automática. Esse processo não é necessariamente racional ou voluntário, mas é uma expressão do funcionamento inconsciente.

Alguns aspectos-chave do conceito de repetição na psicanálise de Freud:

  1. Compulsão à repetição: Freud observou que os pacientes muitas vezes repetiam padrões de comportamento, relacionamentos ou situações que eram semelhantes a eventos traumáticos ou conflituosos de suas vidas passadas. Essa repetição ocorria mesmo que esses eventos passados tenham causado sofrimento.
  2. Transferência: A repetição frequentemente ocorre no contexto da relação entre o paciente e o terapeuta, um fenômeno conhecido como transferência. O paciente pode transferir sentimentos, atitudes e expectativas em relação a figuras significativas de seu passado para o terapeuta.
  3. Inconsciente: A repetição é um fenômeno inconsciente, o que significa que o paciente muitas vezes não está ciente de que está repetindo padrões de comportamento ou relacionamento do passado.

Os esquemas cognitivos na Terapia Cognitiva de Aaron Beck

Aaron Beck é conhecido por desenvolver a Terapia Cognitiva. O conceito de “esquema” é fundamental na Terapia Cognitiva de Beck e desempenha um papel central em sua compreensão dos processos cognitivos e emocionais.

Para o tio Beck, um esquema é uma estrutura cognitiva profunda e estável que representa as crenças centrais e as percepções de uma pessoa sobre si mesma, sobre os outros e sobre o mundo. Esses esquemas são desenvolvidos ao longo da vida e são influenciados pelas experiências, pela cultura, pela educação e por outros fatores.

Alguns pontos-chave sobre o conceito de esquema na Terapia Cognitiva de Beck:

  1. Estrutura cognitiva: Os esquemas são como “filtros” cognitivos que moldam a maneira como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor. Eles influenciam nossos pensamentos, emoções e comportamentos.
  2. Crenças nucleares: Dentro de um esquema, há crenças centrais ou nucleares que são fundamentais para a maneira como uma pessoa se vê e entende o mundo. Por exemplo, alguém com um esquema de “baixa autoestima” pode ter crenças nucleares como “eu sou incompetente” ou “eu sou indigno de amor”.
  3. Pensamentos automáticos: Os esquemas são ativados em situações relevantes e geram pensamentos automáticos. Esses pensamentos automáticos são muitas vezes negativos e distorcidos e contribuem para sintomas de depressão, ansiedade e outros problemas emocionais.
  4. Vieses cognitivos: Os esquemas também estão relacionados a vieses cognitivos, como a tendência de filtrar informações de maneira seletiva para confirmar as crenças existentes. Por exemplo, alguém com um esquema de “desconfiança” pode interpretar mal as ações de outras pessoas como hostis, mesmo que não haja evidências claras para isso.

*

A repetição da psicanálise freudiana e os esquemas cognitivos na terapia cognitiva do Beck estão mais próximos do que pode parecer a princípio.

  1. Padrões de repetição: Tanto Freud quanto Beck reconhecem a existência de padrões repetitivos de comportamento, pensamento e emoção.
  2. Inconsciente: Tanto a repetição na psicanálise quanto os esquemas na Terapia Cognitiva têm raízes em processos inconscientes.
  3. Origens nas experiências passadas: esses padrões são moldados por experiências passadas.
  4. Tratamento: Tanto na psicanálise quanto na Terapia Cognitiva, a identificação e a modificação desses padrões repetitivos são formas de tratamento.

Tanto a psicanálise freudiana quanto a Terapia Cognitiva do Beck reconhecem a existência de padrões de repetição e sua influência no funcionamento psicológico.

Os dois conceitos tratam de um mesmo fenômeno fundamental sobre nós: para o bem e para o mal, temos certos padrões de funcionamento / tendências a repetir.


Callegaro, Marco Montarroyos. (2005). A neurobiologia da terapia do esquema e o processamento inconsciente. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas1(1), 09-20. Recuperado em 07 de setembro de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000100002&lng=pt&tlng=pt.

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Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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