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O que são esquemas cognitivos CONCRETAMENTE? (Psicologia e Neurociência)

Você já ouviu falar de esquemas cognitivos? Ou talvez de… esquemas mentais?

Talvez você tenha visto esse conceito em algum texto do (Jean) Piaget, do (Aaron) Beck (um dos pais da Terapia Cognitivo-Comportamental – a TCC) ou até do Jeffrey Young (criador da Terapia do Esquema).

Você consegue entender bem o que é um esquema cognitivo? Consegue imaginar o que isso seria, concretamente? Ou te parece muito abstrato?

Eu sempre fiquei incomodado com as abstrações dos conceitos psicológicos. Nesse ponto, a crítica ao mentalismo presente no Behaviorismo Radical / Análise do Comportamento é bem pertinente.

Esse foi um dos grandes motivadores para que eu fosse estudar neurociências. Pensar em neurotermos ajuda a entender que a psicologia pode ser concreta, mesmo com termos que parecem muito abstratos a princípio.

Falar de abstração pura pode nos levar a não entender direito como as coisas acontecem na realidade. “Esquema mental” pode te levar a pensar “mas onde fica isso?”, “como é que funciona?”, “cadê isso que eu não consigo ver?”.

O interessante é esquema cognitivo é algo muito concreto, só que não somos bem treinados para perceber.

Esquemas mentais na Psicologia Comportamental (Análise do comportamento / Behaviorismo Radical)

É possível, inclusive, explicar esquemas cognitivos em termos comportamentais (como os behavioristas costumam fazer):

No Behaviorismo Radical, o termo “esquemas cognitivos” ou “esquemas mentais” não é lá muito apreciado. Em vez disso, pode se defini-los como “esquemas comportamentais”. E o que eles são, concretamente? Padrões de comportamento ou repertórios comportamentais.

Imagine que alguém tem medo de cobra. Quando cobras aparecem, as reações dessa pessoa seguem um certo padrão. Sua pupila dilata, seu coração acelera, sua frequência cardíaca aumenta, ela dá um saltinho de susto, coloca a mão sobre o peito e sai correndo. Poderíamos chamar isso de esquema comportamental “AI MEU DEUS UMA COBRA!”

Já melhora um pouco o problema da abstração, né? Mas vamos abrir a caixa-preta.

Os esquemas mentais na Psicologia Cognitiva

Os esquemas cognitivos são um conceito muito presente na psicologia cognitiva que descreve estruturas mentais que representam o conhecimento que temos sobre o mundo.

Muita viagem ainda?

A ideia central dos esquemas cognitivos é que o cérebro humano organiza informações, experiências e conhecimento em estruturas mentais que ajudam a compreender, interpretar e processar novas informações. Esses esquemas são construídos ao longo da vida e são moldados pela experiência e pela aprendizagem.

Agora te parece um pouco mais palpável?

Talvez, mas ainda abre muito espaço para pensar em uma mente abstrata, que não sei direito onde fica, nem sei que forma tem, nem como funciona…

Vamos deixar mais concreto.

Esquemas cognitivos/mentais do ponto de vista neurofisiológico

Da perspectiva de sistema nervoso, os esquemas cognitivos podem estar relacionados a várias áreas e processos do cérebro (e regiões associadas):

  1. Memória: A formação e o uso de esquemas estão intimamente ligados à memória. À medida que aprendemos e experimentamos coisas novas, nosso cérebro armazena essas informações em áreas específicas da memória, como a memória de longo prazo.
  2. Neurônios e sinapses: O conhecimento e as experiências são representados em padrões de atividade neural. À medida que acumulamos conhecimento, as conexões entre os neurônios (sinapses) podem ser reforçadas ou modificadas, permitindo uma representação eficaz dos esquemas cognitivos.
  3. Plasticidade cerebral: A plasticidade cerebral refere-se à capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do tempo. A formação e a atualização de esquemas cognitivos podem envolver mudanças na conectividade e na estrutura do cérebro, permitindo a acomodação de novas informações.
  4. Redes neurais: Os esquemas cognitivos podem ser representados por redes neurais específicas. Por exemplo, o conhecimento sobre um tópico particular pode estar distribuído em várias regiões do cérebro que trabalham juntas para formar um esquema completo.
  5. Processamento de informações: Os esquemas influenciam a forma como percebemos, pensamos e interpretamos o mundo ao nosso redor. Eles afetam a maneira como processamos informações, filtramos dados irrelevantes e tomamos decisões.

Em resumo, embora os esquemas cognitivos sejam principalmente um conceito psicológico, eles têm bases neuronais e são moldados pela atividade cerebral.

Vamos a um exemplo:

Um exemplo de esquema cognitivo que pode ser relacionado à atividade cerebral é o esquema de cadeira. Imagine que você tem um esquema cognitivo para a ideia de uma cadeira, que inclui todas as características típicas associadas a uma cadeira, como quatro pernas, um assento, um encosto, etc. Quando você encontra uma cadeira, seu cérebro ativa esse esquema, permitindo que você reconheça rapidamente o objeto como uma cadeira e entenda seu propósito.

A atividade cerebral associada a esse esquema pode envolver várias áreas e processos:

  1. Percepção visual: Quando você vê uma cadeira, a informação visual é processada em áreas visuais do cérebro, como o córtex visual. As características visuais da cadeira, como sua forma, cor e textura, são registradas nesses locais.
  2. Memória: Seu cérebro acessa a memória de longo prazo (no hipocampo, por exemplo) para recuperar informações previamente aprendidas sobre cadeiras. Isso inclui não apenas a aparência de uma cadeira, mas também seu uso, contexto histórico e qualquer experiência pessoal relevante com cadeiras.
  3. Ativação de áreas específicas: A ativação de áreas do cérebro associadas a objetos inanimados, como uma cadeira, pode ocorrer. Por exemplo, regiões do cérebro envolvidas no reconhecimento de objetos ou no processamento de informações sobre a função de objetos podem ser ativadas.
  4. Associações emocionais ou funcionais: Se você tiver experiências emocionais ou funcionais específicas relacionadas a cadeiras, como lembranças de conforto ao sentar em uma cadeira favorita, essas emoções podem estar ligadas à ativação de áreas cerebrais relacionadas às emoções (como a amígdala) e à experiência pessoal.
  5. Integração de informações: Seu cérebro integra todas essas informações para criar uma representação completa e coerente da cadeira que você está vendo. Isso envolve a coordenação de várias áreas cerebrais para formar uma compreensão rápida e eficiente do objeto. Por exemplo: o córtex parietal é responsável pela integração de informações sensoriais, incluindo aquelas relacionadas à localização espacial da cadeira em relação a você e a seu corpo. Isso ajuda a situar a cadeira no ambiente.
  6. Neurotransmissores: A percepção de objetos familiares, como cadeiras, pode levar à liberação de neurotransmissores, como a dopamina. Isso pode estar associado à sensação de reconhecimento e satisfação ao identificar a cadeira.

Esses processos fisiológicos e neuroquímicos estão intimamente relacionados à formação e ativação do esquema cognitivo de “cadeira”. Em conjunto, eles permitem que você reconheça e compreenda o objeto como uma cadeira.

Portanto, o esquema cognitivo de “cadeira” não é apenas uma representação abstrata, mas está relacionado a padrões de atividade cerebral específicos e a redes neurais que permitem o reconhecimento e a compreensão de cadeiras quando encontradas no ambiente. Esse processo é fundamental para a forma como percebemos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

Veja uma outra definição:

“Os esquemas não são “coisas”. (…) os esquemas surgem no momento em que são necessários, a partir da interação de um grande número de elementos muito mais simples, todos trabalhando em conjunto. Os esquemas não são entidades explícitas, mas estão implícitos no nosso conhecimento e são criados pelo próprio ambiente que estão a tentar interpretar (…) O que está armazenado é um conjunto de forças de ligação que, quando ativadas, têm implícita a capacidade de gerar estados que correspondem a esquemas instanciados.”  (Rumelhart, Smolensky, McClelland and Hinton, 1986, pp. 20-1)

A definição acima explica o que são esquemas mentais enfatizando a força de conexões entre neurônios. Então, se você tem um esquema de “medo-de-homem-carrancudo”, ele é uma rede neural complexa em que muitos neurônios diferentes se conectaram para formar esse padrão específico.

Pense na seguinte metáfora: você está em um avião, no céu. Lá embaixo, tem um monte de pessoas que se juntaram para “escrever” com seus corpos uma mensagem como “Socorro!” (as pessoas são os neurônios, a mensagem é o esquema).

Esquemas cognitivos/mentais então são…

…padrões de funcionamento do seu corpo. Isso inclui o cérebro (claro) e a mente (que é atividade do cérebro).

Os três tipos de explicação (comportamental, cognitiva, neurofisiológica) são três aspectos da mesma coisa.

Melhorou? Conseguiu entender melhor os esquemas cognitivos dessa forma?

Fala comigo 😉

 

About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Mestre e graduado em Psicologia. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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