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O fundador do psicodrama e a estatística: dessa você também não sabia!

Você já ouviu falar do psicodrama, criado por Jacob Levy Moreno?

Uma definição possível é essa, de um texto intitulado exatamente de O que é psicodrama? (Was ist Psychodrama?)

“Das Verfahren Psychodrama in all seinen Anwendungsfeldern ist die handelnde oder szenische Darstellungdes inneren Erlebens einer oder mehrerer Personen sowie deren äußerer Situationen.”

“O método do psicodrama em todos os seus campos de aplicação é a atuação ou representação cênica da experiência interior de uma ou mais pessoas e suas situações externas.”

O psicodrama também pode ser definido como um método de ação, que pode ser utilizado como psicoterapia, que envolve encenação, representação, dramatização. Dito de um modo menos preciso, porém mais didático (o que serve bem para começar a entender o negócio), psicodrama pode ser considerado uma mistura de psicologia e teatro.

Exemplo: o psicodrama, na prática, pode incluir um palco onde pessoas encenam situações passadas, interações interpessoais ou processos mentais internos e podem pensar de forma diferentes sobre tudo isso.

Você há de convir comigo que teatro é uma das disciplinas mais “de humanas” que existem, no senso comum. Ainda juntando com psicologia, que também é considerada uma disciplina de humanas, vira um negócio mais “de humanas” ainda, certo?

Agora, pensa comigo: o que caralhos raios isso teria a ver com matemática?

Aí é que tá! (eu te diria numa mesa de bar).

1º ato, a história desconhecida:

Jacob Levy Moreno nasceu na Romênia em 1889 e morreu em 1974. Foi psiquiatra, psicólogo, sociólogo e fundador do Teatro da Espontaneidade (o Stegreiftheater, uma companhia de teatro improvisado). Foi aí que Moreno criou o psicodrama.

No entanto, para espanto de muitos, o Moreno também criou algo que é visto como nada a ver com o psicodrama: a sociometria.

A sociometria é um método quantitativo para medir relações sociais.

O próprio Jacob Moreno definiu a sociometria como

a investigação da evolução e organização de grupos e a posição dos indivíduos dentro deles.” “As explorações sociométricas revelam as estruturas ocultas que dão forma a um grupo: as alianças, os subgrupos, as crenças ocultas, as agendas proibidas, os acordos ideológicos, as “estrelas” do show.”

Também disse que

A principal tarefa metodológica da sociometria tem sido a revisão do método experimental para que possa ser aplicado efetivamente aos fenômenos sociais.”

Uma das criações de Moreno na sociometria foi o sociograma, um gráfico que representa os indivíduos como pontos/nós e as relações entre eles como linhas. Ele também criou uma revista científica chamada Sociometry (Sociometria).

Moreno também é considerado como um dos fundadores da análise de redes sociais, uma área da sociologia que estuda quantitativamente o papel de indivíduos em grupos pela análise da rede de conexões entre os integrantes. Apesar de não ser só sobre redes sociais online, elas também estão incluídas. O Facebook, por exemplo, se baseia amplamente na sociometria dos usuários.

Agora, olha que interessante:

Esta é uma rede/gráfico resultante de uma análise de redes. Mais especificamente, ela é uma representação gráfica de cálculos estatísticos de uma pesquisa sobre personalidade (mais especificamente ainda, é uma pesquisa usando o modelo Big Five da personalidade: cada cor de bolinha é um dos cinco fatores)

Minhas pesquisas na universidade são em psicologia quantitativa. Volta e meia compartilho algo sobre isso lá no Instagram.

Essa é minha visão nos dias finais para entregar a dissertação.

Nas pesquisas em que participo, utilizamos psicometria (uma junção entre psicologia e estatística) e ciência de redes (que também usa estatística, teoria dos grafos da matemática e outras coisinhas).

E quem é um dos precursores (inimaginável) da ciência de redes?

Jacob Levy Moreno! Ele mesmo, o fundador do psicodrama!

As imagens a seguir são de um dos livros do Moreno:

Jacob Levy Moreno & Helen H. Jennings, 1938. Statistics of social configurations.

Quando você imaginaria que o pai do psicodrama teria tanto algo ver com matemática?

 2º ato, chego ao ponto central do meu argumento: o conhecimento despedaçado.

Aí é que tá! Quase ninguém sabe disso, assim como quase ninguém sabe que existe psicologia matemática.

O modo geral de pensar o conhecimento é separando-o em áreas (como humanas, exatas e biológicas). Uma consequência prejudicial disso é limitar nossa capacidade de entender o mundo a uma só dessas áreas.

Esse exemplo tratado aqui é um dos melhores, pois usa dois pontos aparentemente extremos, considerados nada a ver um com o outro e até aparentemente contraditórios. No senso comum, teatro é “coisa de humanas” e matemática é “coisa de exatas”. As áreas são separadas, quem se considera de uma não olha para a outra e perdemos o que tem de bom em uni-las.

Jacob Moreno é um ótimo exemplo de como a psicologia pode ser integrativa. Em primeiro lugar, é possível juntar áreas do conhecimento (humanas, exatas e biológicas). Em segundo lugar, é possível ultrapassar os limites das escolas de psicologia e linhas de psicoterapia. Moreno era considerado um psicólogo da tradição da Gestalt e fundou o Psicodrama, que viu como “o próximo passo lógico além da psicanálise” de Freud 🙂

O que achou da história do Moreno com psicodrama e estatística? Comenta aí.

E compartilha também. Propagar essa visão é um caminho para superar a eterna e pouco produtiva (até destrutiva) “guerra de abordagens” da psicologia brasileira.


Referências:

Jacob L. Moreno, Helen H. Jennings, Laurent Beauguitte, Françoise Bahoken. Moreno et Jennings,
1938, Statistics of social configurations. Traduction commentée: Version traduite et commentée.

Sociometry, Jacob L. Moreno, Network Science. Wikipedia, the free encyclopedia.

 

About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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