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O que significa “O todo é maior do que a soma das partes?” (não é o que você pensa, provavelmente)

O todo é mais do que a soma das partes” (ou “O todo é maior do que a soma das partes“) é uma frase relativamente famosa (assim como Aristóteles, seu autor). Entretanto, na Psicologia, o cara mais associado a essa ideia (Kurt Kofka) e o real significado da frase são bem desconhecidos.

Esta frase é um princípio básico da Psicologia da Gestalt, que foi uma área de estudo que focou muito em formas e percepção. Nesse contexto, falar que “o todo é maior do que a simples soma das partes” faz todo sentido, e olhando aí que poderemos entendê-la.

cranium, head, optical illusion
O que você vê? Um cálice ou duas faces viradas uma para a outra? Foto por GDJ on Pixabay

A minha ideia de falar sobre isso veio enquanto assisto a segunda aula do curso de Estatística aplicada à Psicobiologia, da UNIFESP, que estou fazendo (principalmente) para o meu mestrado.

Antes de falar da Psicologia da Gestalt, o Altay (professor do curso) falava sobre variáveis e fatores emergentes. Simplificando, podemos pensar em coisas que vemos diretamente no mundo e coisas que emergem da combinação de outras.

Um exemplo da física: F = MA (Força é igual Massa x Aceleração). Vemos a massa diretamente, mas não a força. Força é um fator que emerge da combinação entre massa e aceleração.

Lá pelo minuto 26, o professor Altay começa a falar sobre a Psicologia da Gestalt. Segundo ele, traduziram errado do alemão o que o Kofka realmente queria dizer: observar o todo e observar as partes são processos fenomenológicos diferentes

Ele dá um ótimo exemplo: relógio desmontado é diferente de um relógio montado fenomenologicamente (geram percepções diferentes). Do relógio montado emerge o tic tac, o movimento dos ponteiros. Ao observar os ponteiros pode emergir NA SUA MENTE o tic tac, uma ilusão perceptual a partir da percepção fenomenológica do relógio como um todo.  Não são todas as culturas que imaginam o tic tac.

Dizer que “O todo é maior do que a simples soma das partes” ou que “O todo é mais do que a soma das partes” pode levar a um entendimento equivocado. Podemos achar que UMA PEÇA a mais surge no mundo, ou que a natureza das coisas não é redutível aos seus componentes materiais (e o fator emergente pode parecer algo abstrato, como força ou inteligência).

Este é um ótimo exemplo da Psicologia Concreta, da qual venho falando bastante nas redes sociais nas últimas semanas. Grande parte da Psicologia se perdeu nos termos abstratos e muita gente nem chega a descobrir o que tem de concreto nesses termos.

“Inteligência” parece uma coisa abstrata, mágica, inexistente. “Cadê a indigência?! Não consigo ver nem pegar!” Mas é a mesma coisa com a força, na física. São conceitos abstratos, mas que envolvem variáveis materiais, que você pode ver, pegar etc. Na inteligência você tem, por exemplo, elementos como fluência verbal, velocidade de processamento de informações e solução de problemas – e todos eles são materiais, concretos e mensuráveis.

A Psicologia, principalmente no Brasil, carece de concretude. Fala-se muito de abstrações que (a) parecem não representar nada no mundo material, (b) não se sabe exatamente o que é ou (c) tem um significado para cada pessoa que fala sobre o tema. Isso é um baita problema. Este é um dos motivos pelos quais continuarei falando desse tema: para mostrar uma Psicologia que fala do mundo concreto e, assim, nos permite fazer mudanças concretas nele.

About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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