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Psicologia Humanista e Neuropsiquiatria?!😮

A Psicologia Humanista é conhecida por ser uma área “bem humanas”, enquanto neurociência e psiquiatria seriam “bem biológicas”. Inclusive, é muito comum ter brigas internas na psicologia entre grupos que se posicionam dentro de uma dessas perspectivas (os “de humanas” vs os “mais de biológicas”). Sendo assim, o que Psicologia Humanista teria ver com neuropsiquiatria?

Arte: Diego Max

Este acaba sendo um artigo de uma série que estou fazendo (meio por acaso) sobre conexões surpreendentes entre diferentes áreas e escolas da psicologia e também entre psicologia e outras disciplinas. Eu já tinha falado sobre psicologia matemática, há pouco tempo falei sobre a relação do Jacob Moreno (o fundador do Psicodrama) com a estatística e depois comentei um capítulo de livro que o Marvin Minsky escreveu chamado “Por que Freud foi o primeiro bom teórico de IA (Inteligência Artificial)”.

Na verdade, apesar de ter virado uma série não-intencional de artigos, a princípio, faz todo sentido que ela tenha surgido. Um dos meus maiores interesses é na psicologia científica integrativa, que inclui elementos de diversas áreas e escolas da psicologia (e de fora da psicologia).

Pois bem, voltemos à Psicologia Humanista. Por acaso, acabei caindo em um artigo do Gustavo Castañon (ele tem vários excelentes) chamado Psicologia Humanista: a história de um dilema epistemológico.

No começo do artigo, o Gustavo comenta que a Psicologia Humanista surgiu como uma 3ª grande força de psicologia, em parte como reação à Psicanálise e Behaviorismo. Depois, ele diz o seguinte (negritos meus):

“A oposição feita pelo movimento da Psicologia Humanista ao Behaviorismo e à Psicanálise teve como influências anteriores principais as obras do neuropsiquiatra Kurt Goldstein, da Psicologia da Gestalt e de alguns dos primeiros teóricos da personalidade.

 

Goldstein exerceu poderosa influência sobre os psicólogos humanistas através de obras como The Organism (1934) e Human Nature in the light of psychopathology (1940), baseadas em sua pesquisa sobre a capacidade de reorganização do cérebro humano após lesões cerebrais, feita com soldados feridos em combate.

 

Nelas, Goldstein introduz conceitos que seriam assimilados e desenvolvidos por psicólogos humanistas, como os de autoatualização e tendência ao crescimento, assim como sua visão holista do organismo humano. Ele enfatiza em suas obras a visão de que o Organismo é um todo unificado, afetado em sua totalidade pelo o que quer que aconteça em qualquer uma de suas partes.”

Interessante, né? Esses conceitos, autoatualização e tendência ao crescimento, comumente são ensinados para os estudantes de psicologia puramente como conceitos abstratos, sem muita base concreta. A meu ver, esse é um dos motivos para adesão pouco crítica dos que gostam mais da parte mais humanas da psicologia e, por outro lado, para a rejeição dos mais de biológicas que buscam uma psicologia mais próxima das ciências naturais.

A separação humanas x biológicas é uma falsa dicotomia, são dois níveis de análise de um mesmo fenômeno. Se considerar “de humanas” ou “de biológicas” e se fechar em um só nível é um grande limitador em uma ciência interdisciplinar como a Psicologia.

Agora, outro trecho interessante:

Outra influência importante da Psicologia Humanista é a Psicologia da Gestalt. Da mesma forma que Goldstein, a Gestalt considera o homem como uma unidade irredutível onde tudo está relacionado com tudo, e o todo é mais do que a soma de suas partes. É esse espírito holista da Gestalt (assim como sua concepção do comportamento humano como intencional) que foi assimilado pelo movimento.”

Esse ponto é interessante para pensar sobre emergência e irredutibilidade de certos fenômenos psicológicos. Existe uma tendência a se pensar que estudar níveis mais básicos (como biológica, química…) seria reduzir à psicologia, mas não é o caso. Já questionei se a psicologia explica mesmo, mas também falei também sobre problemas do reducionismo na psicologia científica.

Uma última curiosidade comentada no artigo: “(…) no fim dos anos 40, Maslow era reconhecido como um talentoso psicólogo experimental.”

Isso é surpreendente para muita gente porque também existe a falsa dicotomia entre humanas x experimental. Também não aprendemos a olhar para os vários métodos e integrá-los teoricamente.

O que você achou dessa história entre Neuropsiquiatria e Psicologia Humanista? Faz sentido pra você?

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About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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