fbpx

Receba as novidades do Universo da Psicologia

Atenção | 1. você receberá um email automático e precisa confirmar a sua assinatura. Clique no link que receber no seu email (confira na sua caixa de spam) | 2. Cancele quando quiser com um só clique.

Como praticar a aceitação (e parar de fugir de si, e ser mais livre)

Uma parte difícil da aceitação é as pessoas aceitarem que precisam de aceitação. É comum haver resistência em praticar a aceitação, e isso é bom porque nos obriga a pensar melhor sobre o que é aceitação.

O que é aceitação para a Psicologia?

Em psicologia, aceitação significa “assumir uma postura de consciência sem julgamento e abraçar ativamente a experiência de pensamentos, sentimentos e sensações corporais à medida que ocorrem” (Hayes et al., 2004).

Repare que estamos falando de estados internos. Usando essa definição, vamos a um exemplo:

Suponha que você tenha medo de dirigir carros. Só de pensar em colocar a mão no volante seu coração acelera, você já começa a suar e respirar pior. Intuitivamente, você busca fugir e parar de se sentir mal. Isso significa fugir do carro também. Viu algum problema? Se você não aceitar experimentar um pouco do medo, fica difícil superá-lo.

Tentar resistir ou evitar certas experiências difíceis pode causar ainda mais danos psicológicos (Hayes et al., 2006). Por outro lado, praticar a aceitação pode mudar radicalmente a forma como você lida consigo mesmo e com seus problemas.

Importante: Aceitação refere-se a reconhecer e permitir a sua experiência presente – não necessariamente a sua situação de vida. Nos casos de aceitar as situações de vida, você sempre pode avaliar se isso se aplica.

Como praticar a aceitação

Perceba sua resistência e suas fugas

Um exemplo meu

Algo que me faz ter grande resistência e me prova profundo sofrimento são burocracias que me fazem perder tempo. Preencher um simples formulário desnecessário me dói. Daí eu vou olhar o celular para ver o que tem de bom na internet (vídeos de gatos e essas coisas).

Durante muito tempo eu simplesmente sofri e lutei com todas as minhas forças contra esse tipo de atividade, até que…percebi que isso não era a melhor opção. Pensando a respeito, fiquei consciente do óbvio: o ser humano está fadado ao absurdo existencial de lidar com formulários, relatórios e torturas do tipo. Meu sofrimento é inevitável. Preciso passar por ele, seja para fazer o que preciso fazer e/ou para superá-lo (será que algum dia o eu-Sísifo será visto feliz?).

A percepção da resistência e da fuga é um primeiro passo para praticar a aceitação.

Pratique a aceitação com atenção

Preste atenção ao que acontece no momento presente, de forma intencional e não julgadora. Faz aí agora. O que você tá pensando nesse momento? O que tá sentindo? No próximo 1 minuto, o que vai passar pela sua cabeça e pelo seu corpo? O que você vai pensar e sentir? Sério, faz aí, vou esperar.

A atenção é um processo fundamental para aceitação. Como praticar aceitação SEM atenção? Suponha que você tem que falar com alguém e, por algum motivo, isso te deixa com ansiedade. Só de pensar na cena, você sente ansiedade e vai se distrair para fugir da ansiedade. Nesse caso, você não está aceitando a ansiedade. Você mudou o foco da sua atenção para outra coisa, justamente porque não quer aceitar a experiência ansiosa.

Praticar a aceitação usando sua atenção envolve dedicar um período de tempo simplesmente observando as experiências sem julgar. Você pode começar fazendo isso por 1 minuto apenas (não fez agora há pouco? Ainda tô te esperando…). Depois você pode praticar mais e em mais situações.

Exemplo: você está na fila de um banco (chatíssimo, como toda fila). O que você faz com o tédio e a raiva? (caramba! Pra quê tantas filas?!) Foge, certo? Pega o celular, abre um app, depois outro…Você tá perdendo a maravilhosa experiência de praticar a aceitação na fila do banco. Observe as experiências sem julgar. Observe como as pessoas estão apressadas e nervosas, como a fila demora, as reclamações (nossa, só tem UM caixa atendendo! Que absurdo!)…Mas lembre-se: sem julgar. O objetivo é observar, não absorver.

Eu menti, a experiência na fila per se não é tão maravilhosa assim. Mas a sensação de descobrir que você pode aprender a aguentar uma maldita fila de banco é!

Eu poderia acrescentar mais um monte de possibilidades. Elas poderiam envolver mudar de várias formas seus pensamentos…mas aí…já não é bem aceitação, né? “Só” isso que você viu já é um bom começo, porque a dica mais importante é a próxima.

Como praticar a aceitação praticando a aceitação e depois…praticando a aceitação de novo e, mais tarde…mais aceitação

Praticar a aceitação não é uma questão de pensar demais (até pelo contrário). Aceitação é uma habilidade, requer prática.

Pense como um atleta que precisa aceitar o desconforto do exercício físico. A fisiculturista precisa aceitar a ardência muscular para fazer mais repetições no agachamento, o ginasta precisa aguentar a dor nas panturrilhas para fazer aquelas piruetas insanas.

O objetivo é praticar a aceitação até que ela se torne um hábito mental (e comportamental, emocional, neural…). Com a prática, a aceitação torna-se mais natural/automática e exige menos esforço. Daí você pode praticar a aceitação sem nem mesmo perceber que está fazendo.

Então, da próxima vez que você estiver lutando contra emoções e sentimentos difíceis, tente aceitá-lo como uma oportunidade para praticar a aceitação. Desafio aceito?

*

Se você quiser mais um manual com um monte de instruções para resolver problemas psicológicos e se desenvolver, baixa aí o Psicologia Prática: 107 técnicas para mudar sua vida.

 


Referências:

Hayes, S. C., Luoma, J. B., Bond, F. W., Masuda, A., & Lillis, J. (2006). Acceptance and commitment therapy: Model, processes and outcomes. Behaviour Research and Therapy, 44(1), 1-25.

Hayes, S. C., Strosahl, K. D., Bunting, K., Twohig, M., & Wilson, K. G. (2004). What is acceptance and commitment therapy?. In A practical guide to acceptance and commitment therapy (pp. 3-29). Springer, Boston, MA.

About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Mestre e graduado em Psicologia. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

0 Comments

Leave a comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *