Psicanálise de Freud, Neurociências e as caixas da Psicologia
No último texto respondi o que é angústia e o que fazer quando não sabemos o motivo dela. Uma das definições de angústia que usei é a de afeto sem representação.
Advinha de quem é essa definição de angústia (angst)? Do tio Freud.
Esses conceitos são usados também em neurociência afetiva e cognitiva. Pela Lei de Hebb, redes de ativação neural se formam pelo disparo conjunto de neurônios. Assim, afeto e representação (de forma simplista: o que você sente e o que pensa) ficam conectados porque acontecem juntos. Mas não sempre.
Sem essa conexão, o que você pensou (que estava conectado com o que sentiu em algum momento, talvez até como causa) se perdeu e foi esquecido. O resultado é sentir algo sem saber porque. Na real, isso acontece o tempo todo. Você muda de humor por algum pensamento que passou pela sua cabeça, o pensamento some mas o mau humor continua. Normalmente você encontra outra representação para ligar ao afeto e acredita que ela é a causa (isso é chamado de erro de atribuição).
Por exemplo: você fica de mau humor de manhã por causa do trabalho, chega em casa à noite, desconta em alguém na família e acredita que ela é causa do seu mau humor. Sua consciência não fez a relação causal correta.
Sabe um nome legal pra isso? Deslocamento. Onde aparece? Na psicanálise freudiana.
Agora, isso quer dizer que tudo da psicanálise ortodoxa freudiana é válido? Não.
Quer dizer que é mais complicado que isso.
O problema de pensar no modo “sou do existencialismo” / “sou da psicanálise ortodoxa freudiana” é que você fica limitado a uma certa caixa de ferramentas.
Uma alternativa é pensar em si como um usuário de ferramentas, que podem vir de várias caixas. É mais difícil? Com certeza. Mas isso expande imensamente sua visão de mundo.
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Contexto: essa é a continuação de uma série de respostas que dei lá no instagram e começou com uma pergunta sobre uma polêmica recente. Ela envolve a discussão gerada a partir da publicação de um livro que colocou a psicanálise como pseudociência.
O texto que apresentei aqui é um exemplo de como a discussão não é tão simples e, geralmente, improdutiva. Um dos grandes motivos é que queremos nos manter na nossa caixa e defendê-la a todo custo.
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