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Por que o ciúmes dói tanto? Neurobiologia da rejeição social

Por que o ciúmes dói tanto? Por que a dor do ciúme pode parecer uma dor física (como uma dor NO coração mesmo, de forma não metafórica)? A ciência do ciúme explica.

Esse artigo dá um ótimo resumo. Inclusive, o nome é bem bom também: “A dor da desconexão social: examinando as bases neurais compartilhadas da dor física e social“.

Por que o ciúmes dói tanto?

Pontos chave (destaques meus)

“Evidências observacionais destacaram semelhanças entre a dor física e a “dor social” – os sentimentos dolorosos associados a danos reais ou potenciais nos laços sociais. Assim, as experiências de rejeição ou perda social são frequentemente descritas com palavras de dor física (“sentimentos feridos” e “coração partido”), e tanto a dor física como a social são experiências altamente nocivas.”

Quando você olha bem, até parece óbvio: pensamos com o corpo, sentimos no corpo.

Até Tio Freud comentou disso:

“A catexia intensa e sempre crescente do objeto ausente (perdido), gerada pelo desejo inultrapassável da criança, cria exatamente as mesmas condições econômicas que a catexia gerada pela dor de uma parte do corpo ferida…” Sigmund Freud

(Catexia = investimento de energia [libido])

Esse é o ponto nevrálgico da questão da dor social-física: a questão mente-corpo. Nesse vídeo abaixo eu falei sobre isso. É um ponto fundamental para entender a psicologia como um todo.

“A investigação sobre os substratos neuroquímicos da dor física e social demonstrou que ambas dependem de processos opioides. Assim, também foi demonstrado que os opiáceos, que são analgésicos potentes, reduzem os comportamentos de angústia de separação em animais.”

Os opioides endógenos ajudam a explicam outra coisa que a maioria das pessoas tem dificuldade de entender: o efeito placebo.

“A pesquisa de neuroimagem demonstrou que as experiências de exclusão social ativam predominantemente o córtex cingulado anterior dorsal (CCAd) e a ínsula anterior (IA) – regiões conhecidas por terem um papel na experiência angustiante da dor física.”

Boa parte da explicação tá aqui. Muitas vezes abstraímos demais quando a explicação é muito mais simples e concreta. Por isso tanta coisa parece tão misteriosa quando usamos uma Psicologia sem cérebro.

“Além disso, diversas linhas de pesquisa mostraram que experiências de avaliação social negativa, rejeição de um parceiro romântico e luto também levam à atividade no CCAd (córtex cingulado anterior dorsal) e na IA (ínsula anterior). Alguns estudos também demonstraram atividade neural em regiões associadas ao componente sensorial da dor (ínsula posterior).”

Respostas neurais à exclusão. Atividade no córtex cingulado anterior dorsal (CCAd) e na ínsula anterior (IA) que foi maior durante a exclusão social do que durante a inclusão social.

E aqui já podemos levantar a explicação evolutiva. A dor é um mecanismo útil de sobrevivência, seja social/psicológica ou corporal/biológica. Em tempos primórdios quando pertencer a um grupo era um fator crucial para a sobrevivência, a rejeição social realmente poderia ser uma ameaça enorme à vida.

“Com base nos circuitos neurais partilhados associados à dor física e social, a investigação mostrou que os indivíduos que são mais sensíveis a um tipo de dor são também mais sensíveis ao outro. Assim, uma maior experiência ou sensibilidade à dor física está associada a uma maior sensibilidade à dor social (sensibilidade à rejeição ou apego ansioso).”

Curioso, né? E é estranho que a gente estranhe isso. Mas é esperado já que normalmente separamos mente x corpo. O ponto é que a psicologia humana está assentada na biologia. A biologia é a base. O aspecto social (mesmo que pareça abstrato), só nos afeta por meio do corpo.

Outra consequência de uma sobreposição de dor físico-social é que os fatores que alteram um tipo de dor têm um efeito semelhante no outro.

Por exemplo, o apoio social, que é conhecido por reduzir a dor social, também pode reduzir a dor física, e o Tylenol (paracetamol; Johnson e Johnson), que é conhecido por reduzir a dor física, também pode reduzir a dor social.”

Isso explode muitas cabeças.

Com base no papel do CCAd (córtex cingulado anterior dorsal) e da IA (ínsula anterior) ​​na resposta a experiências socialmente dolorosas, estas regiões podem ser cruciais para traduzir experiências de desconexão social em respostas fisiológicas a jusante, que têm implicações para a saúde.”

Então, eis porque o ciúme dói tanto

Já vimos dois porquês do ciúme doer tanto: o porque evolutivo e o porque neurobiológico. O modo como nosso corpo foi construído e programado para funcionar pela evolução dita tendências psicológicas. Então, o ciúme dói tanto porque nosso corpo (cérebro incluso, claro) foi criado para que isso aconteça. Porém, não é só.

Não foi determinado geneticamente que a Jeniffer vai sentir ciúme do Ricardo, que trabalha na farmácia. Aí entram as causas sociais e psicológicas da dor do ciúme.

Podemos ter sido programados para ter ciúme ou por uma cultura do ciúme.

 

Por último, há o porquê individual.

Por quê o ciúme dói tanto em mim?”

Cada um, na sua história de vida particular, foi mais ou menos estimulado a sentir ciúme. Alguém que passou por muitas experiências de perda de pessoas próximas e abandono vai ter mais chances de sentir a dor do ciúme do que alguém que sempre teve relações seguras.

O que fazer se o ciúme dói tanto?

O ciúme dói tanto que pode te parecer que é uma dor que nunca vai passar. Pode parecer também que você É assim, logo vai sempre sofrer por causa disso.

A dor do ciúme tem bases biológicas, mas é o resultado do seu corpo interagindo com o mundo. Ou seja, o ciúme também é aprendido. E assim como aprendemos a ter ciúme, podemos aprender a não ter (bendita seja a plasticidade cerebral que nos permite mudar!).

Como aprender? Com o nosso curso online Livre do Ciúme.

Não vou ser modesto. É o melhor material que já vi sobre o assunto. É como você viu nesse texto: eu não consigo ficar satisfeito com explicações simplistas. A pegada do curso é essa: pegar todos os aspectos do ciúme (evolutivo, genético, neurofisiológico, psicológico, cultural).

Existe uma “psicologia de senso-comum” que abstrai demais e esquece do mundo concreto, do corpo de carne, osso e tripas. A psicologia que eu uso é a psicologia científica. Além disso, é uma psicologia científica aplicada, focada em como usar o conhecimento para fazer mudanças práticas.

O ciúme dói tanto porque ninguém nos ensina como lidar com ele de forma eficaz.

Clique aqui para saber mais sobre o Livre do Ciúme.

Qualquer questã, me chama.

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About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Doutorando, mestre e graduado em Psicologia. Especializando em Neurociências. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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