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Como é o ciúme normal? (E os problemas dessa ideia)

“Como é o ciúme normal?” é uma pergunta aparentemente simples mas que esconde muita coisa importante. Pode ser que você queira saber se o seu ciúme é normal e, se for, tá tudo bem. Será?

Entendo perfeitamente se você quer uma resposta rápida e simples, mas se alguém te der uma ela pode ser perigosamente enganosa.

Para entender como é o “ciúme normal” precisamos primeiro entender o que é normal. Existem pelo menos dois jeitos de definir normal (e nos dois, a ideia de ciúme normal pode ser perigosa).

Ciúme normal como norma social

Nesse caso, o ciúme normal é aquele que segue as normas sociais. Exemplo: na nossa sociedade, o ciúme quando seu parceiro se atrai fisicamente por outra pessoa é um ciúme normal. Ele é normal no sentido de comum e aceito socialmente.

Mas e se for socialmente normal espiar o celular do parceiro por causa de ciúme? Por ser que você ache ok aí também. Mas e se for normal espancar alguém por causa de ciúme? Pode parecer exagerado demais para ser normal, mas esse já foi um tipo de ciúme normal em grande parte da história humana e ainda é em vários lugares do mundo. Em sociedades atuais onde o controle sobre a mulher é grande, é comum espancar por causa de ciúme. Mais que isso: pode ser comum, normal e legal (permitido por lei).

O ciúme normal é diferente em culturas diferentes. Ou seja, o que é normal aqui, não é normal em outro lugar/sociedade.

Espero que eu tenha conseguido mostrar que mesmo que o ciúme e o que se faz por causa dele seja considerado normal, comum e aceito pela sociedade, pode não ser um bom guia para o seu comportamento.

O ciúme normal como norma estatística

Podemos definir ciúme normal também como aquele que é comum estatisticamente. Suponha que pegamos os dados de uma amostra de milhões de pessoas e fizemos uma distribuição gaussiana. Suponha também que 1% das pessoas nunca sentem ciúme e outros 1% sentem ciúme mortal (literalmente, matam por ciúme). Você fica ali no bolo dos 98%, logo tem um ciúme normal, já que está junto com quase todo mundo. Tá tudo bem assim?

Suponha que de todo mundo que tem ciúme, 80% tem problemas de relacionamento por causa dele. Ainda é um ciúme normal. É normal ter problemas de relacionamento por causa do ciúme, quase todo mundo tem. Mas tá tudo bem assim?

Espero que tenha te mostrado que ciúme normal estatisticamente pode também não ser o melhor guia para o seu comportamento.

Claro que você pode querer comparar seu comportamento com o que é normal socialmente e estatisticamente. E isso é válido. Nesse caso, veja alguns…

Exemplos de ciúme normal

  • sentir ciúme quando parceiro olha para outra
  • sentir ciúme quando imagina que parceira pode estar te traindo
  • sentir ciúme quando parceiro fica muito tempo conversando com outra pessoa
  • sentir ciúme quando vê um “competidor” e acha que pode perder a parceira
  • sentir ciúme

Exemplos de ciúme anormal

  • não sentir nenhum ciúme
  • sentir ciúme toda vez que parceira sai de casa, mesmo que seja pra ir, seilá…na padaria
  • sentir excessivo ciúme do passado e ponto de ter vontade de terminar a relação
  • tentar controlar e prender o parceiro para evitar qualquer possibilidade de perdê-lo
  • sentir ciúme excessivo por causa de qualquer pessoa que se aproxime do parceiro

Ciúme normal pode ser ok, porém…

Essa separação entre ciúme normal e ciúme anormal já pode te ajudar a avaliar quando o ciúme é problemático ou não. Porém, usar só a norma social ou estatística pode te fazer sofrer mesmo que seu ciúme seja considerado normal. Muita gente considera normal controlar muito a vida dos parceiros por causa de ciúme. Inclusive, é comum afirmarem que o ciúme é sinal de amor, portanto tá tudo certo. O problema é que muita gente sofre com o ciúme normal.

Normal não é sinônimo de bom. Já foi normal (e permitido por lei) homens matarem esposas por causa de traição. Mas isso te parece bom?

Se saber como é o ciúme normal não é suficiente…o que fazer?

Não me entenda mal. Entender normas sociais e estatísticas é importante para guiar nosso comportamento. Mas segui-las cegamente não é.

A questão “como é o ciúme normal?” cai no mesmo problema da questão “É errado ter ciúme?“: a pergunta não é muito boa.

Você pode ter ciúme anormal (sentir muito ciúme ou não sentir nada) e viver bem com isso. Mas também pode viver mal. Se tiver ciúme normal também. A normalidade é só um detalhe entre um monte de outros. O ciúme envolve muito mais do que isso.

O seu ciúme pode ser muito diferente das normas e das estatísticas, e mesmo assim você sofrer por ele. E o seu ciúme pode ser um ciúme muito normal (moral, social e estatisticamente), e mesmo assim você sofrer por isso. Na real, o ciúme normal pode ser simplesmente um ciúme problemático normalizado.

Proponho que você pense em outros tipos de questões, por exemplo:

  • o ciúme tá me fazendo bem?
  • quais as consequências do ciúme?
  • o ciúme melhora ou piora meus relacionamentos?
  • sentir ciúme é sofrido?
  • o ciúme pode destruir a relação que eu quero proteger?

O ciúme problemático (mesmo que normal) tem soluções

Estranhamente, o normal é o ciúme correr solto. Digo estranhamente porque é muito fácil ver que o ciúme pode causar muitos problemas. Mesmo assim, praticamente não existem boas propostas de solução.

Mesmo que o ciúme seja uma das principais causas que levam casais para psicoterapia, os terapeutas também não são bem preparados para lidar com o problema.

Essa grande necessidade não satisfeita foi um dos motivos para criarmos o Livre do ciúme, um curso/treinamento online para ensinar as pessoas (incluindo terapeutas) a lidarem com o Dragão do paraíso. Clique aqui para saber mais. Qualquer coisa, fala comigo.

 

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About the Author

Tiago Azevedo
Tiago Azevedo

Mestre e graduado em Psicologia. Vi na internet o melhor meio possível para conversar sobre a mente e o comportamento humano. Acredito que o conhecimento científico pode (e deve) ser compartilhado, e não ficar limitado a laboratórios de pesquisa e consultórios de psicoterapia. Há anos trabalho no "Universo da Psicologia", um projeto de divulgação da Psicologia em várias plataformas (blogs, Youtube, podcast, redes sociais etc) que soma mais de 200.000 seguidores.

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